Prometo que vou parar de olhar, faculta-me um segundo Ou troca-me um segundo olhar se tens olhares p'ra troca Sem segundas intenções, mas apagaste o mundo E agora tenho que me concentrar para olhar à volta Dedica-me uma madrugada ou fala um-quarto-de-hora Não me narres de aventuras, juras e conquistas Faço homem-morto no teu mar, eu jogo o corpo fora Os teus dois olhos dão lugar à paz das ametistas Senta-te comigo na barra a ver a Flor-do-Mar E outros barcos viandantes nessa babilónia Que é ter coração de cristal e alguém vir quebrar Eu vim pendurar-te ao pescoço uma calcedónia Olha a lua cor-de-rosa quase fluorescente E na barriga a mariposa em quartzo crescente Joga o corpo neste mar cor-de-safira E vamos perguntar a delfos desta sintonia Prometo que vou parar de olhar, faculta-me uma vida E perdoa-me a saída se caio no exagero Mas o fascínio que me regas não é culpa minha E os meus dois olhos são esmeraldas quando sou sincero Fala-me do teu pai, que o meu também me dói Falas de voos e pontas opostas do planeta Falo de tudo um pouco; eu nunca falo pouco E vou ser o primeiro a mostrar-te a cauda dum cometa Mostras-te dura e inconquistável como um diamante - Permite que eu fumegue o prazer num cigarro Só se corta diamante com outro diamante Cara-metade que espero no ninho: João-de-Barro Sentes o coração a bater na ponta dos dedos E os dedos tremem; e os medos gritam Mas se me concederes um beijo sem cantar engodos Eu calço-te um rubi no dedo contra tudo e todos Senta-te comigo no álveo a ouvir Caetano Ou Cícero que hoje é sábado e tempo é riqueza O trem das cores vai bailando à banda do mar E nesses olhos cor-de-mel calço um anel de turquesa Fala-me de insignificâncias o que ninguém vê Versos da Cora Coralina e o branco das rosas Vou quebrar a promessa, não sei parar de olhar Só tu transformas tudo isto em pedras preciosas Enquanto eu puder olhar, enquanto a sorte deixar Senta-te e vamos abrir fontes luminosas Nunca pensei que fosse fácil criar pedras preciosas Enquanto puderes olhar, enquanto a sorte deixar Levanta-te e vamos pintar luas cor-de-rosa Nunca pensei que fosse fácil criar pedras preciosas