[Verse 1] Abre-me a porta mãe ‘tou a chegar, trago da escola coisas pra contar Cá pra mim já sabes, porque a diretora de turma avisou-me que te ia ligar Parou a aula pra me enxovalhar à pala da roupa que eu ando a usar E porque hoje trouxe um anel do chinês e a chapa ao pescoço posta num colar Quer ficar a par das companhias, se no intervalo eu ando no Sameiro A apanhar beatas, mas eu fumar um cigarro, tá pra chegar o primeiro Penso pra mim, o melhor que fazias era dizer isso a frente de um espelho Que deves ter começado nesta idade e hoje dás aulas com bafo a cinzeiro Baggie jeans e o cabelo à Zé Milho foi tudo aquilo que arranjaram pra apontar ao teu filho Tenha cuidado que ele é fino, mas mantenha-o no trilho, porque a julgar pelo aspeto ‘tá metido em sarilho Querem falar de mim vou dar um motivo, comecei a pintar paredes da cidade onde eu vivo Sair pela rede éne vezes com lata, hoje rio-me da porcaria que fiz pra preencher o vazio O meu desenho acho lindo e é feio, como bazar do recreio sem que na escola eles vejam Na verdade, foi a**im que ganhei, ainda que à margem da lei, a minha primeira HipHopNation Quem diria que dos gunas ouviria lições de vida além de mocas e de blocos de notas Com a vertente educativa que até aqui me traria aquela mensagem positiva dos Dealema ou do Nokas Abre-me a porta mãe ‘tou a chegar, trago da escola coisas pra contar Cá pra mim não sabes, porque a diretora não tem um motivo para hoje te ligar A não ser que fosse a dar os parabéns pelo crescimento do filho que tens Os prémios que ganha com aquilo que escreve, as notas que tem, ficava-lhe bem mas… Fica a pensar que a minha evolução teve o seu contributo (na…) Figura de estilo, semântica e métrica foi tudo fruto da Rotina constante a consumir rap que ela censurou Foi la que busquei identidade que ela ao me julgar quase me roubou, mas… [Hook] Sinto que vou buscar aquilo que é meu Sei de quem já há muito que me esqueceu Vejo que há um pouco de mim que lá morreu E hoje é o dia de eu levantar o véu
[Verse 2] Abre-me a porta mãe ‘tou a chegar, vai-te parecer que ‘tou a alucinar Juro que vi o futuro num sonho em que a arte era a forma do homem se salvar Fonte em que a mente se pode banhar, espaço prá alma revitalizar A sala de espelhos, em que um homem nu se fica a conhecer num olhar singular Espera um pouco, deixa acabar que isto é arte em bruto, estou-me a lapidar Ninguém leva a sério o que eu falo, preciso de alguém a quem possa mostrar Sei que pra já são rimas em ar, mas se eu paro agora vou ficar sedado Vivo no quarto a rimar palavras e no fim do dia ainda acabo gozado Enfiado num sistema de ensino que vandaliza quem ensina e espera ver-me no cimo Tiram-me as bases só pra ver se eu me auto disciplino por isso escrevo o que sinto e decoro aquilo que rimo Depois de 10 anos a comer calado dentro do quarto fechado eu continuo a dar na música A única forma de pa**ar o que penso como pa**aram a mim e fazê-lo de uma forma lúdica Mãe hoje dizem que o teu filho é crescido e quando apareço de gravata já não vêm defeito Quem diria que o miúdo com o futuro tremido entrava numa faculdade pública de Direito Vim cá ver de que é que o país é feito…grandes artistas! Génios, cobardes, homens de verdade, amigos, porcas e chupistas Tranca-me a porta mãe vou chegar tarde, abre-me a porta mãe que eu já cheguei Tentei fugir, fazer de novo, esquecer o rap, acho que falhei E eles dizem que vale mil palavras a imagem, só que imagem não define ninguém Eu fico para a ouvir a mensagem e comparar com a imagem que ela tem Betos e cromos, dreads e gunas dão pelos nomes que a gente lhes dá E o dread que sonha fortunas é o beto que rouba trocos de amanha E eu ‘tou na rotina constante a fazer o som que ela censurou é la que busco a identidade que ela ao me julgar quase me roubou mas… [Hook] Sinto que vou buscar aquilo que é meu Sei de quem já há muito que me esqueceu Vejo que há um pouco de mim que lá morreu E hoje é o dia de eu levantar o véu